Mais de 20 sismos, incluindo um de magnitude 4,1 na escala de Richter,
registaram-se desde a noite de terça-feira na zona do Golfo de Valência
próximo de um polémico armazém subterrâneo de gás natural instalado nas
costas de Vinarós (Castellón, Espanha).
Dados do Instituto Geográfico
Nacional referem que desde meados de Setembro a zona registou já quase
350 sismos, numa situação que está a suscitar polémica e amplo debate em
torno do futuro do projecto.
Nas últimas horas o sismo mais
intenso ocorreu cerca das 23:30 de terça-feira, atingindo uma magnitude
de 4,1 graus, seguindo-se a um outro que atingiu os 3,9 graus.
O
movimento de terra mais intenso desde que começaram a registar-se estes
terramotos relacionados com o projecto Castor, como é conhecido, ocorreu
na madrugada da terça-feira com uma magnitude de 4,2 graus, levando a
activar o plano de risco sísmico da Generalitat (Governo regional)
valenciana.
Com um investimento de 1.200 milhões de euros, o
projecto Castor procura aproveitar um antigo poço petrolífero a 1.750
metros de profundidade sob o nível do mar para ali injectar gás, criando
uma reserva estratégica para Espanha.
O poço permitiria armazenar o que se estima seja gás suficiente para um terço da procura do sistema durante 50 dias.
Idêntico
a outros projectos do tipo existentes em Espanha, este está a causar
polémica devido à actividade sísmica que começou a 13 de Setembro e que
continua, apesar de a 26 de Setembro o Ministério de Indústria ter
ordenado a interrupção temporária da injecção de gás.
Geólogos e
outros especialistas têm afirmado nos últimos dias que os numerosos
sismos registados na costa de Castellón e Tarragona se devem à
"sismicidade induzida" pelo projecto Castor.
No intuito de
analisar a situação actual, técnicos do Ministério de Indústria
visitaram na terça-feira as instalações do Castor, desconhecendo-se para
já quaisquer conclusões da visita.
A empresa que gere a unidade,
Escal UGS, assegurou que os dados sismológicos se estão a recolher e a
ser comunicados pontualmente às autoridades locais, autonómicas e
nacionais, reiterando a sua vontade de colaborar com as directrizes do
executivo.
Para o presidente do Colégio de Geólogos, Luis Suárez, a
decisão de ordenar a paralisação na injecção de gás é "muito acertada",
já que o armazenamento se realiza injectando gás numa rocha que acumula
energia de maneira natural pelos processos de dinâmica da Terra e que
se liberta através de ondas sísmicas.
Luis González de Vallejo,
catedrático de Engenharia Geológica da Universidade Complutense de
Madrid, explicou que a pressão a que se injecta o gás no antigo poço
petrolífero é "muito elevada", o que "sempre" provoca fracturas na
rocha.
Além disso, explicou, a "sismicidade induzida" ou "criada
onde antes não existia" pelas injecções na rocha produz centenas de
terramotos, que costumam chegar a um valor máximo de 4,3 na escala de
Richter.
A correlação "perfeita" entre injecções e sismicidade é "algo que se sabe" desde os anos 60, disse.
A
organização ambiental Ecologistas em Acção considerou que o projecto
demonstra "o grave risco das actuações no subsolo" e o ministro de
Agricultura, Alimentação e Ambiente, Miguel Arias Cañete, disse que a
declaração de impacto ambiental do projeto não tinha "nenhum
condicionamento" relativo a problemas sísmicos.
O armazenamento
subterrâneo de Castor é um dos maiores dos cinco existentes ou previstos
em Espanha: Gaviota e Castor (ambos situados no mar), Yela, Serrablo e
Marismas.
Estas instalações subterrâneas aproveitam antigos poços
esgotados de petróleo ou de gás natural ou aquíferos salinos para poder
armazenar esta matéria-prima.
O processo consiste em retirar gás natural desde a rede básica de gasodutos, que é depois comprimido e injectado nos poços.
Segundo
a Enagás, proprietária de Gaviota, Yela e Serrablo, o gás injetado
desloca a água que preenche os buracos da 'rocha-armazém' que, por sua
vez, está selada por outra rocha impermeável.
No caso do Castor
são necessários seis meses seguidos para injetar a totalidade do gás
denominado "de trabalho ou útil", ou seja, que se pode extrair quando a
procura assim o exigir.
Junto a este gás, existe um denominado gás
de colchão que fica preso entre os poros e que, ainda que não seja
'útil' para consumo, é necessário para que a instalação funcione.
A
capacidade de armazenamento é importante para garantir o fornecimento
num país como Espanha, que importa praticamente a totalidade de seu
consumo, referem as autoridades.
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