27 fevereiro 2014

Descoberto fragmento de zircão com 4,4 mil milhões de anos

    Uma equipa de cientistas datou de pequeno fragmento de zircão com 4,4 mil milhões de anos de idade, segundo um artigo publicado este domingo na revista Nature Geoscience. O pedaço mais antigo de crosta do planeta Terra foi encontrado num terreno de ovelhas, na Região Oeste da Austrália.   

Mineral de zircão. (Fonte: Público)

   Segundo a equipa, a descoberta indica que a Terra formou a crosta terrestre pouco tempo depois da sua origem, há 4,54 mil milhões de anos, sendo este mineral o vestígio dessa crosta primordial.




   Os vários minerais analisados pela equipa de John Valley foram extraídos de um afloramento rochoso na região montanhosa de Jack Hills, no Oeste da Austrália. “Os [cristais] de zircão podem ser grandes e muito bonitos. Mas aqueles com que nós trabalhamos são pequenos e não são especialmente atraentes, excepto para os geólogos”, considerou John Valley. “Se se segurar na palma da mão e com uma boa visão, pode-se vê-lo sem uma lupa.”

   Para determinar a idade do zircão, os cientistas utilizaram primeiramente uma técnica de datação baseada na determinação do tempo de decaimento radioactivo do urânio para o chumbo. No zircão há traços de urânio que, ao longo de milhares de milhões de anos, se transformam em isótopos de chumbo, ou seja, átomos mais estáveis. A partir da proporção de isótopos de chumbo em relação aos de urânio pode-se calcular a data de formação destes minerais.

   No entanto, há cientistas que contestam as datações feitas com esta técnica devido à deslocação de parte destes elementos dentro do zircão. Isto poderá acontecer porque, quando se dá o decaimento radioactivo, são emitidas radiações que podem danificar a estrutura do mineral. Nesse processo, parte dos núcleos de chumbo e de urânio podem migrar. Assim, quando os cientistas vão analisar os átomos de urânio e de chumbo numa parte do mineral podem estar a fazer cálculos a partir de um número incompleto dos átomos, já que parte deles pode ter migrado. Um cálculo tendo como base um número incompleto de átomos dará uma datação errada do mineral.

   Para resolver este problema, a equipa de John Valley utilizou uma segunda técnica. Os investigadores fizeram uma tomografia ao mineral onde observaram a distribuição dos átomos de urânio e chumbo. Desta forma, verificaram que a análise do decaimento radioactivo tinha em conta todos os átomos necessários para medir a idade do mineral, confirmando que o pedaço de zircão tinha efectivamente 4,4 mil milhões de anos de idade.


Planeta frio


   Esta descoberta mostra que, em apenas 100 milhões de anos,  a Terra passou de uma bola de rocha fundida para uma bola com uma crosta. Além disso, o fragmento analisado surgiu apenas 160 milhões de anos depois da formação do Sistema Solar.

   Segundo Valley, a descoberta também apoia a teoria da existência de uma “Terra primordial fria”, onde as temperaturas eram suficientemente baixas para existir um oceano ou até vida. “Uma das questões em que estamos interessados é saber quando é que a Terra se tornou habitável para a vida. Quando é que arrefeceu o suficiente para a vida poder emergir?”, questionou o cientista.

   Assim, a descoberta do zircão sugere que o planeta talvez tenha sido capaz de sustentar vida microbiana há 4,3 mil milhões de anos, segundo o investigador: “Não temos nenhuma prova de que a vida tenha existido nessa altura. Não temos nenhuma prova de que não tenha existido. Mas não há razão para que a vida não tenha podido existir na Terra há 4,3 mil milhões de anos.” O registo fóssil mais antigo da existência de vida são os estromatólitos, produzidos há cerca de 3,4 mil milhões de anos.


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