13 março 2011

Cenários são devastadores para região de Lisboa

Num futuro mais ou menos próximo, um grande terramoto na região de Lisboa e Vale do Tejo é inevitável. E, se nada for feito, as consequências serão gravíssimas.

De cada vez que ocorre um sismo, fala-se em magnitude segundo a escala de Richter e em intensidade segundo a escala de Mercalli. A primeira é uma medição da quantidade de energia libertada pelas ondas sísmicas; a segunda contempla os efeitos de forma qualitativa. A de Richter é "aberta", na medida em que não se conhece o nível máximo possível; contudo, os maiores terramotos jamais registados, entre os quais o de Lisboa em 1755, rondam o grau 9 nesta escala. A partir da magnitude 6, o sismo é considerado forte. Já a escala de Mercalli vai de I (quase imperceptível) a XII (catastrófico) passando por IX (devastador) e mede os estragos provocados pelo sismo em termos de destruição material e humana.

As duas escalas não dizem o mesmo, apesar do que poderia parecer à primeira vista. Um sismo pode não ser muito forte em termos de energia libertada (6 na escala de Richter, por exemplo), mas ter efeitos devastadores sobre as construções e as pessoas merecendo um IX na escala de Mercalli. Por outro lado pode ser de grau 9 na escala de Richter, não ser sentido por ninguém e corresponder a I na escala de Mercalli, caso ocorra no meio do deserto, longe das habitações.

Maria Ana Baptista, professora do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa, exemplifica essa influência da distância ao epicentro com dois sismos portugueses: "Faz em Abril, cento e dois anos que ocorreu o sismo com epicentro em Benavente, a norte de Lisboa, e cujos estragos foram imensos [apesar de a magnitude ser próxima de 6 na escala de Richter]. Mas no último grande sismo em Lisboa, a 28 Fevereiro de 1969, apesar de a magnitude ter sido 8 [Richter], como o epicentro estava a cerca de 250 km, se bem que tenha havido estragos, eles teriam sido muito piores se o epicentro estivesse mais próximo."

Mas então, por que é que o terramoto de 1755 foi tão devastador, visto que o seu epicentro foi ao largo da costa alentejana? "Quanto mais afastado o sismo, menores os danos", diz-nos José Fernando Borges, membro do Centro de Geofísica de Évora e docente do Departamento de Física da Universidade de Évora. "Mas existe também um efeito de amplifi cação [das ondas sísmicas] e, em Lisboa e Vale do Tejo, o tipo de solo, com zonas de aluviões, é propício a esse fenómeno de amplifi -cação." Foi o que aconteceu no século XVIII. E vai tornar a acontecer. Só não se sabe é quando.

Inevitável
Mais precisamente, frisa o investigador, "se o epicentro for a sudoeste do cabo de São Vicente, tal como em 1755 [e com magnitude de quase 9 na escala de Richter], em Lisboa, devido à densidade populacional, a destruição será igualmente grave. A intensidade poderá atingir IX na escala de Mercalli, com queda de edifícios, destruição das vias de comunicação, incêndios.

Isso será devastador não só para Lisboa, mas também para toda a costa alentejana e o Algarve." Acrescenta Maria Ana Baptista: "se um sismo de 8,75 [na escala de Richter] como o de 1755 fosse gerado no mar, tal como em 1755, a probabilidade de haver um tsunami seria muito grande. E também podemos imaginar o que aconteceria com um sismo de grau 9 com epicentro próximo de Lisboa: o mesmo que aconteceu às populações de Sumatra que, não o esqueçamos, antes de serem atingidas pelo tsunami foram atingidas por um sismo de magnitude 9".

Porém, se o epicentro estiver situado mais perto de Lisboa, o mais provável, faz notar José Fernando Borges, é que não seja tão forte como o de 1755. Mas isso não é necessariamente uma boa notícia. "Se o epicentro for em Lisboa ou numa zona próxima, a magnitude não deverá ser muito superior a 6,3 na escala de Richter", explica. "É pouco provável [mas não impossível] que seja superior a isso.

Foi o caso do sismo de 1909, que destruiu Benavente. Mas nas zonas muito próximas do epicentro, a intensidade poderá ir até VIII ou mesmo IX na escala de Mercalli. O que significa que poderá verificar-se um grande nível de destruição nas zonas densamente povoadas." Seja como for, Lisboa e arredores são dados à partida como perdedores nesta lotaria sísmica.Mas será que nos devemos mesmo preocupar agora? Não estaremos a ser alarmistas antes do tempo? Quando é que terramotos devastadores poderão tornar a acontecer? Dentro de séculos, de milénios? Infelizmente, pode ser já amanhã. "Um sismo [com epicentro em Lisboa ou perto, magnitude à volta de 6 na escala de Richter] vai acontecer, isso é inevitável", responde José Fernando Borges.

Há uma grande imprecisão mas pode perfeitamente ocorrer nos próximos 50 anos." Como se irão comportar as construções? Em 2005, uma simulação do LNEC deu os seguintes resultados para um sismo do tipo de 1755: 53.387 prédios danificados só em Lisboa e quase meio milhão (477.170) na Grande Lisboa, com danos que iriam de ligeiros (26,3 por cento) ao colapso total (1,8 por cento). Balanço humano: cerca de 10 mil mortos, dependendo, contudo, da hora em que acontecesse o abalo. E uma catástrofe económica também.
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Fonte: publico.pt

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