08 julho 2012

"É provável que haja outro sarilho. Outra crise petrolífera"


O especialista em geopolítica do petróleo José Caleia Rodrigues defende que Portugal devia posicionar-se como uma porta de entrada de petróleo na Europa.

"Não somos periféricos. Somos uma entrada na Europa e devíamos assumir essa situação, entrando por Portugal petróleo e gás, de variadíssimas origens. Não nos cabe arranjar desculpas por não termos oleoduto até França", afirmou à Lusa José Caleia Rodrigues.

Em declarações à Lusa, o especialista em economia política internacional admite a possibilidade de uma crise petrolífera semelhante à de 1973, considerando "inevitável" que o consumo mundial de petróleo aumente, apesar da crise económica ter abrandado o consumo na Europa e nos EUA.

"É provável que haja outro sarilho. Outra crise petrolífera. É um golpe demasiado pesado, porque os EUA e a Europa Ocidental são completamente dependentes", declarou, considerando que "no espaço de seis ou sete meses, a China será o maior consumidor de energia do mundo".

Em relação à Europa, explicou, o abastecimento de petróleo "passa quase todo pela Alemanha", considerando que Portugal não tem um papel mais determinante "por questões políticas".

Caleia Rodrigues defendeu que "se Portugal fosse uma porta de entrada [de petróleo na Europa], o país teria um poder extra e podem duvidar que fosse bem exercido".

"Tecnicamente não há nenhum impedimento. Portugal tem uma posição privilegiada e um porto de águas profundas, em Sines, com caraterísticas únicas", acrescentou.

Autor de "A Geopolítica do Petróleo" e "Petróleo. Qual Crise?", Caleia Rodrigues explicou que "bastava fazer um oleoduto, de ligação a França, cujo custo é inferior ao de uma autoestrada" para Portugal se assumir como porta de entrada do 'ouro negro' no Velho Continente, com a vantagem de diversificar os mercados de origem e, assim, tornar a Europa menos vulnerável a problemas de abastecimento.

Em relação ao futuro, Caleia Rodrigues está convicto que "a produção vai ter que aumentar, porque o consumo vai continuar a aumentar", realçando que a quebra registada nos EUA "não compensa a crescente utilização da China".

"Ainda mal começou. Só uma fábrica chinesa produz, por ano, um milhão de automóveis, o que vai fazer disparar o consumo. Há cada vez mais dependência do petróleo: não nos mesmos sítios, mas em outras regiões", avançou.

O especialista alertou ainda para o aumento dos custos de extração e de refinação do petróleo, considerando que a tendência de longo prazo é de subida do preço.
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