Um metal raro no mundo, mas
abundante no Brasil, considerado fundamental para a indústria de alta
tecnologia e cuja demanda tem aumentado nos últimos anos, tem sido objecto de
controvérsia e de uma série de suspeitas e informações desencontradas que se
multiplicam na internet – alimentando teorias conspiratórias e mitos sobre a dimensão
da sua importância para a economia mundial e do seu potencial para elevar o
Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Trata-se do nióbio, elemento
químico usado como liga na produção de aços especiais e um dos metais mais
resistentes à corrosão e a temperaturas extremas. Quando adicionado na
proporção de gramas por tonelada de aço, confere maior tenacidade e leveza. O
nióbio é actualmente empregado em automóveis, turbinas de avião, gasodutos, em
tomógrafos de ressonância magnética, na indústria aeroespacial, bélica e
nuclear, além de outras inúmeras aplicações como lentes ópticas, lâmpadas de
alta intensidade, bens electrónicos e até piercings.
O mineral existe no solo de
diversos países, mas 98% das reservas conhecidas no mundo estão no Brasil. O
país responde actualmente por mais de 90% do volume do metal comercializado no
planeta, seguido pelo Canadá e Austrália. No país, as reservas são da ordem de
842.460.000 toneladas e as maiores jazidas se encontram nos estados de Minas
Gerais (75% do total), Amazonas (21%) e em Goiás (3%).
Segundo relatório do Plano Nacional
de Mineração 2030, o Brasil explora actualmente 55 substâncias minerais,
respondendo por mais de 4% da produção global, e é líder mundial apenas na
produção do nióbio. No caso do ferro e do manganês, por exemplo, em que o país
também ocupa posição de destaque, a participação na produção global não
ultrapassa os 20%.
Tal vantagem competitiva em
relação ao nióbio desperta cobiça e preocupação por parte das grandes siderurgias e maiores potências económicas, que costumam incluir o nióbio nas
listas de metais com oferta crítica ou ameaçada. É isso também que alimenta
teorias de que o Brasil vende seu nióbio “a preço de banana”; que as reservas
nacionais estão sendo “dilapidadas”; e que o país está “perdendo biliões” ao
não controlar o preço do produto.
A chamada “questão do nióbio” não
é um assunto novo. Um dos seus porta-vozes mais ilustres foi o deputado federal
Enéas Carneiro, morto em 2007, que alardeava que só a riqueza do mineral seria
o suficiente para lastrear toda a riqueza do país. O nióbio já chegou a ser
relacionado até com o mensalão, após o empresário Marcos Valério afirmar na CPI
dos Correios, em 2005, que o Banco Rural conversou com José Dirceu sobre a
exploração de uma mina de nióbio na Amazónia.
Em 2010, um documento secreto do
Departamento de Estado americano, vazado pelo site WikiLeaks, incluiu as minas
brasileiras de nióbio na lista de locais cujos recursos e infra-estrutura são
considerados estratégicos e imprescindíveis aos EUA . Mais recentemente, o
nióbio voltou a ganhar os holofotes em razão da venda bilionária de uma fatia
da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), maior produtora
mundial de nióbio, para companhias asiáticas. Em 2011, um grupo de empresas
chinesas, japonesas e sul coreana fechou a compra de 30% do capital da
mineradora com sede em Araxá (MG) por US$ 4 biliões.
Independente do debate muitas
vezes ideológico por trás da questão e dos mitos que cercam o mineral o facto é que o quase ‘monopólio’ da oferta ainda não resultou
numa política específica para o nióbio no Brasil ou programa voltado para o
desenvolvimento de uma cadeia industrial que vise agregar valor a este insumo
que praticamente só o país oferece.
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