05 fevereiro 2012

Geologia e Política de Mãos Dadas

 O choque geopolítico do shale gas polaco:

A perspectiva de independência energética da Polónia em virtude da exploração das enormes reservas de shale gas – existe um potencial de abastecimento de 300 anos do mercado polaco – está a gerar um novo foco de tensão geopolítica entre a UE e a Rússia.

É que se a exploração e produção de shale gas avançar a fundo na Europa Central, isso significa o fim da dependência energética extrema da UE do gás natural russo. A primeira reacção dos europeus centrais, como a Alemanha,  face a esta notícia, deveria ser de satisfação. Mas não é.

Pelo contrário, há enormes movimentações nos bastidores de Bruxelas, com o apoio da Alemanha e da França, para banir a exploração do gás de xisto na UE, agitando a bandeira dos impactos ambientais negativos, devido ao risco de contaminação dos lençóis freáticos.

Gazprom e Ambientalistas: a estranha aliança

Mas as verdadeiras razões são outras. Ironia das ironias, o grande aliado dos ambientalistas nesta "causa" é a Gazprom.  A empresa russa está superactiva em Bruxelas para promover legislação para banir a exploração de shale gas na UE. Isto porque se o projecto avançar, a UE deixa de estar dependente energeticamente da Rússia, e em consequência, a Alemanha perde a moeda de troca para um acesso facilitado ao mercado russo (a Alemanha é o maior consumidor da UE de gás natural russo). E a Rússia, por sua vez, perde o acesso facilitado à tecnologia alemã.

Além disso, isto também significaria um aumento significativo do poder polaco na UE, afirmando-se como um concorrente a prazo face à influência alemã a Leste. Ainda por cima com o apoio forte dos EUA, já que a exploração do shale gas é realizado somente com tecnologia americana.

Com efeito, esta tecnologia disruptiva nascida nos EUA fez com que o preço do gás descesse a pique, retirando força às ambições de potência energética russa ancorada no gás natural.

Este é apenas mais um sinal comprovativo de que a política energética europeia está, atualmente, desenhada apenas para servir os interesses germânicos no sector, desde a promoção de determinadas tecnologias renováveis (solar e eólica) e da aposta no gás natural como energia primária-base.

Mas nem todos os países da UE vão na cantiga: a Suécia, por exemplo, quer fazer da biomassa e não o gás natural a principal fonte de energia primária. Por isso, é altura de Portugal também de ter uma política energética que contribua para a recuperação da sua soberania económica, à semelhança do que está a fazer a Polónia.

A imagem abaixo mostra as principais reservas de shale gas na Europa, entre as quais uma reserva na Bacia Lusitaniana, em Portugal.


Reportagem sobre o shale gas em Portugal no programa "Falar Global" da Sic Notícias:


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Fontes: 

http://raizpolitica.wordpress.com/2011/10/11/o-choque-geopolitico-do-%C2%ABshale-gas%C2%BB-polaco/
http://www.europeanenergyreview.eu/data/docs/Viewpoints/ppt0000002.pdf

1 comentário:

RM disse...

Brutal...as políticas da UE parecem saídas de um livro do George Martin...é bom é que não acabe da mesma maneira.