A perspectiva de independência energética da Polónia em virtude da exploração das enormes reservas de shale gas – existe um potencial de abastecimento de 300 anos do mercado polaco – está a gerar um novo foco de tensão geopolítica entre a UE e a Rússia.
É que se a exploração e produção de shale gas avançar a fundo na Europa Central, isso significa o fim da dependência energética extrema da UE do gás natural russo. A primeira reacção dos europeus centrais, como a Alemanha, face a esta notícia, deveria ser de satisfação. Mas não é.
Pelo contrário, há enormes movimentações nos bastidores de Bruxelas, com o apoio da Alemanha e da França, para banir a exploração do gás de xisto na UE, agitando a bandeira dos impactos ambientais negativos, devido ao risco de contaminação dos lençóis freáticos.
Gazprom e Ambientalistas: a estranha aliança
Mas as verdadeiras razões são outras. Ironia das ironias, o grande aliado dos ambientalistas nesta "causa" é a Gazprom. A empresa russa está superactiva em Bruxelas para promover legislação para banir a exploração de shale gas na UE. Isto porque se o projecto avançar, a UE deixa de estar dependente energeticamente da Rússia, e em consequência, a Alemanha perde a moeda de troca para um acesso facilitado ao mercado russo (a Alemanha é o maior consumidor da UE de gás natural russo). E a Rússia, por sua vez, perde o acesso facilitado à tecnologia alemã.
Além disso, isto também significaria um aumento significativo do poder polaco na UE, afirmando-se como um concorrente a prazo face à influência alemã a Leste. Ainda por cima com o apoio forte dos EUA, já que a exploração do shale gas é realizado somente com tecnologia americana.
Com efeito, esta tecnologia disruptiva nascida nos EUA fez com que o preço do gás descesse a pique, retirando força às ambições de potência energética russa ancorada no gás natural.
Este é apenas mais um sinal comprovativo de que a política energética europeia está, atualmente, desenhada apenas para servir os interesses germânicos no sector, desde a promoção de determinadas tecnologias renováveis (solar e eólica) e da aposta no gás natural como energia primária-base.
Mas nem todos os países da UE vão na cantiga: a Suécia, por exemplo, quer fazer da biomassa e não o gás natural a principal fonte de energia primária. Por isso, é altura de Portugal também de ter uma política energética que contribua para a recuperação da sua soberania económica, à semelhança do que está a fazer a Polónia.
A imagem abaixo mostra as principais reservas de shale gas na Europa, entre as quais uma reserva na Bacia Lusitaniana, em Portugal.
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Fontes:
http://raizpolitica.wordpress.com/2011/10/11/o-choque-geopolitico-do-%C2%ABshale-gas%C2%BB-polaco/
http://www.europeanenergyreview.eu/data/docs/Viewpoints/ppt0000002.pdf
1 comentário:
Brutal...as políticas da UE parecem saídas de um livro do George Martin...é bom é que não acabe da mesma maneira.
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