Académico refere que maior risco é no Alentejo e Algarve
2012-04-19
O antigo reitor da Universidade de Coimbra Fernando Rebelo defendeu hoje que toda a costa portuguesa está sujeita ao risco de tsunami, e não apenas a sul de Peniche, como consta no Mapa Oficial de Riscos.
O académico falava em Aveiro, no Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, sobre o tema «O Litoral e riscos naturais», no VII Encontro Nacional de Riscos e I Fórum sobre Riscos e Segurança, em que teceu várias críticas ao Mapa Oficial de Riscos, publicado em 2006, em anexo ao Plano Nacional da Política de Ordenamento do Território.
Embora reconhecendo que o risco é maior na costa alentejana e no Algarve, o geógrafo considerou que "um mapa de riscos de tsunami tem de ser bem pensado para Portugal" e salientou que, de acordo com dados históricos, o tsunami que se seguiu ao terramoto de 1755 teve efeitos conhecidos na Irlanda e a norte de Londres, ou mesmo na Suécia, para concluir que "o risco de tsunami está em toda a costa portuguesa".
Referiu também um artigo publicado por um grupo de geógrafos franceses que visitou Portugal e no qual estes especialistas defendem que todas as praias portuguesas devem muito ao tsunami que se seguiu ao terramoto de 1755, que terá arrastado muita areia do fundo [do mar] para as praias.
"O risco mais elevado está no sul, particularmente na costa ocidental do Alentejo e no Algarve, no resto do país é médio ou pequeno, mas não há risco zero", disse. Aquele professor salientou, por outro lado, que a origem dos tsunamis está nos terramotos, mas não é a única e são referidas como "outras causas" as erupções vulcânicas e deslizamentos.
Nessa linha, observou que "logo no início do estudo das placas tectónicas apareceu frente à Península Ibérica um Rifte (zona de fractura, acompanhada por afastamento em direcções opostas da superfície terrestre), onde havia conhecimento de muitas erupções submarinas", lembrando: "os Açores nasceram assim".
Vulcões em actividade
Rebelo salienta que tem havido vulcões a funcionar que já não estavam activos há 500 anos, para concluir que não há garantias de que um vulcão não venha a entrar em actividade nessa área, tanto mais que, ao largo da Ilha Terceira, o vulcão submarino da Serreta esteve em erupção entre 1998 e 2001, limitando a passagem na área de navios e aviões.
Para corroborar a sua tese, socorreu-se ainda de um estudo comandado pelo geólogo Vítor Forjaz, que aponta para a possibilidade de existir, na placa euroasiática, uma microplaca na zona dos Açores, com riscos graves para São Miguel.
Lembrou ainda que estudos recentes admitem a possibilidade de existir uma zona de subducção (área de convergência de placas tectónicas, onde uma delas se infiltra debaixo da outra) muito perto de Cádis, hipótese que classificou como "assustadora, principalmente se foi a responsável pelo tremor de terra em Granada [que ocorreu em 2010]".
Segundo aquele docente, que os riscos de tsunami, tufão e tempestade no mar desdobram-se em riscos de inundações no Litoral (igualmente ignorados no Mapa Oficial de Riscos), de ventos fortes e de movimentos de massa em arribas ou em vertentes.
"O conhecimento de casos já ocorridos permite ter uma melhor consciência desses riscos, tanto através da análise dos processos envolvidos, como através das vulnerabilidades existentes. Mas o facto de não serem conhecidas manifestações de riscos desse tipo num determinado local não dispensa uma análise criteriosa da possibilidade de virem a ocorrer", concluiu.
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