30 junho 2013

Shale Gas/gás de xisto - E Portugal?

As maiores concentrações de shale gas/gás de xisto no mundo
Locais com potencial para formação de "recursos energéticos não convencionais"
 
Nos EUA, os preços do gás caíram 32% no ano passado, a indústria renasceu e há muitos novos empregos. Há, de facto, grandes alterações na paisagem mas se a extracção for bem feita, não há problemas ambientais e, depois de desmontados os poços, a paisagem volta ao normal”, garante o director de Economia Energética da BP, Paul Appleby.

É com base nestes números que países como a China, o Reino Unido ou a Polónia estão já a investir milhões na exploração, mas outros, como França, proibiram as técnicas de extracção. Em Portugal, a contestação só chegou ao Parlamento quarta-feira, pela voz da deputada d’Os Verdes, Heloísa Miranda, mas o país está mais atento que nunca.

Portugal aparece em vários mapas como tendo potencial de gás de xisto e já estamos a fazer os primeiros estudos. Estamos numa fase muito inicial e há grandes pontos de interrogação, mas há também muita informação que nos permite já fazer um ranking das melhores zonas”, diz a investigadora do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Zélia Pereira.


E Portugal?

Duas das zonas com maior potencial são as Bacias do Algarve e do Baixo Alentejo, onde se sabe que há localizações que apresentam alguns dos sete parâmetros geológicos que mostram que há potencial de gás de xisto economicamente recuperável. O problema é serem zonas protegidas ambientalmente. “Na Praia da Mareta [perto de Sagres e Vila do Bispo], há rochas com cores indicativas da presença de gás de xisto, e na Carrapateira, de sete parâmetros já identificamos quatro, logo é um alvo a investigar”, confirmou a investigadora Zélia Pereira.

Mas é na Bacia Lusitaniana, nos concelhos do Bombarral, Cadaval e Alenquer, que há mais indícios. Foi aqui que mais pesquisas se fizeram nos últimos anos, incluindo as prospeções das empresas que desde os anos 70 do século passado têm procurado, em vão, petróleo em Portugal. E é também aqui que a Galp está a pesquisar gás natural, incluindo o gás de xisto.



A Galp não pode excluir uma fonte que tem ganho uma importância crescente no mercado mundial de gás natural. A empresa está empenhada em reforçar a sua estratégia, como se pode verificar pela opção de se tornar operadora na concessão Aljubarrota-3. Isso não significa que a exploração de gás de xisto seja viável nessa concessão”, disse ao Dinheiro Vivo o presidente executivo da empresa.

Manuel Ferreira de Oliveira é muito cauteloso quando fala de recursos. “Em Portugal existem algumas das condições geológicas necessárias para a formação de gás de xisto mas não significa que ele esteja lá ou que haja condições para a sua extracção. É necessário fazer estudos geológicos e sísmicos”, explica. E acrescenta: “O primeiro passo está dado, estamos a fazer esses estudos para colmatar essa lacuna de conhecimento”.


Os benefícios para o país
A primeira grande consequência do boom do gás de xisto nos EUA, que começou em 2010, foi “a quebra abrupta no preço do gás natural”, conta Ferreira de Oliveira. No mercado spot (onde as empresas compram gás) os preços estão a três dólares, enquanto na Europa estão a 12 e na Ásia a 18. Para a indústria, os preços caíram 66%, contribuindo para a criação de emprego que se estima que chegue a um milhão em 2025. “É um impacto brutal e uma mudança geopolítica impressionante. E agora até estão a produzir petróleo de xisto, o que fez a produção diária crescer um milhão de barris. Foi a maior do mundo”, disse ao Dinheiro Vivo, o presidente da Partex, António Costa e Silva.

Apesar de Paul Appleby dizer que não se pode replicar o que aconteceu nos EUA noutros países, principalmente na Europa, se em Portugal fossem descobertos volumes de gás de xisto economicamente viáveis, o impacto poderia ser muito semelhante. Os preços iriam descer para a indústria, onde 30% dos custos de produção são com gás, e até se poderia começar a abastecer os transportes públicos e camiões com gás natural liquefeito - como também está a acontecer nos EUA - conseguindo ganhos que, no limite, podiam baixar os preços dos bilhetes.

Mas tudo isto é ainda muito longínquo, mesmo com empresas como a Total, Chevron ou Exxon Mobil a querer investir na Europa. É que Portugal não aparece sequer no mapa de recursos mundiais divulgado pelo departamento de Energia dos EUA que diz haver 207 mil biliões de metros cúbicos (bcm) de gás de xisto recuperável em 42 países, como China, Argentina, EUA ou Polónia, França e Reino Unido - onde, estima-se, haverá em quantidade para tornar o país autossuficiente por 40 anos.

“O que faria se estivesse no lugar do governo e do ministro da Economia - que defende muito a mineração - era pedir ao LNEG para fazer um mapeamento das zonas do país onde há condições geológicas para a existência de gás e petróleo de xisto e depois cruzar essas zonas com os aquíferos e com as zonas de instabilidade sísmica. Por fim, estabeleceria regras e estudava o que os americanos estão a fazer do ponto de vista ambiental. Se fornecer informação geológica, o comprador está mais bem preparado e gasta menos dinheiro”, defende Ribeiro da Silva.


Os riscos para o ambiente

 O gás e o petróleo de xisto não estão nos espaços vazios naturais dos materiais rochosos, como o gás e o petróleo convencionais, mas no material rocha propriamente dito. Para a extracção, quer do gás, quer do petróleo, é preciso fracturar a rocha através de uma técnica chamada fracking horizontal - que combina a perfuração horizontal e o fracking, que consiste em fracturar as rochas através de jactos de água a altas pressões. 
O problema é que a água está misturada com químicos e a pressão é tão grande que esta mistura pode entrar nos lençóis freáticos e contaminar a água potável. Pode ainda induzir actividade sísmica. “Há situações em que há riscos, e situações em que ele não existe, mas o gás de xisto não é o papão”, diz o presidente da Endesa e ex-secretário de Estado da Energia, Nuno Ribeiro da Silva.


O aproveitamento das explorações no estrangeiro
Portugal ainda não se sabe se tem gás de xisto explorável e, mesmo que tenha, vão ser precisos bem mais de dez anos para o produzir. Então, porque não aproveitar o gás mais barato dos EUA que vai começar a ser exportado já a partir do próximo ano? Só isto podia fazer os preços descer, não para os três dólares, mas para cerca de nove. O problema é que, mais uma vez, no imediato é quase impossível. 

Há contratos de longo prazo com a Nigéria e Argélia que têm de ser pagos mesmo que não se levante o gás todo - que é o que está a acontecer porque o consumo desceu. Esses contratos não podem ser rasgados, por isso a Europa está entalada”, explica o presidente da Endesa em Portugal e ex-secretário de Estado da Energia.


Custos?
Apesar dos avanços tecnológicos que a extracção de gás de xisto conheceu nos últimos anos nos EUA, o processo de fracking não é barato. Um estudo de 2012 da KPMG aponta que os EUA gastam três a dez milhões de dólares para perfurar um só poço, dependendo da profundidade e da localização. Na Europa, um poço pode custar mais 40%, porque as rochas-mãe estão a maiores profundidades e é necessária mais água, e maior pressão, para proceder à fracturação. Além disso, “nos EUA, o governo dá incentivos para explorar novos tipos de energia, há acesso fácil ao crédito, uma baixa densidade populacional que lhes permite ter mais terra livre para explorar e os terrenos são privados, ou seja, as empresas que querem explorar negoceiam uma renda com os proprietários. Na Europa não é assim”, repara Costa e Silva.

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Texto adaptado de:
                           dinheiro vivo.pt

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