03 novembro 2010

Jovens geólogos emigram para a Mongólia

A falta de ofertas de emprego em Portugal levou quatro jovens licenciados em geologia a emigrar para a Mongólia, onde trabalham para uma empresa de exploração de carvão no deserto de Gobi, "no meio de nada". Sara Ferreira, um dos membros do grupo, disse à Lusa que tudo começou há pouco mais de um ano, quando, concluída a licenciatura, procurava em vão um trabalho de geologia em Portugal. Sem encontrar oportunidades de emprego soube então, através de ex-colegas do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da oferta de trabalho na Mongólia. 

 "Decidi concorrer e fui aceite, mesmo sem experiência em exploração geológica", afirmou, acrescentando que fez a primeira viagem até à Mongólia em meados de Agosto de 2005. Mais tarde, em Outubro, juntaram-se a ela os colegas João Geraldes e Rita Ferreira e, em Fevereiro passado, chegou Sónia Coelho, todos finalistas de 2004, com idades entre os 25 e os 26 anos, e amigos desde os tempos da faculdade.
O trabalho envolve uma equipa de 70 pessoas - entre geólogos, geofísicos, perfuradores e pessoal de apoio -, que estão instaladas em Gobi sul, a 60 quilómetros de Dalanzdgag, "precisamente no meio de nada", explicou Sara Ferreira.  "O grupo é bastante internacional e, além de mongóis, tem norte-americanos, australianos, irlandeses, búlgaros, sul-africanos, russos, neo-zelandeses, canadianos, panamenses e colombianos". E afirmou: "O nosso contingente é o maior a seguir aos mongóis".
 
Todos eles trabalham e vivem no deserto, um campo composto unicamente por "gers", as habitações tradicionais mongóis, durante períodos de seis semanas intervalados por duas semanas de férias, geralmente gozadas em casa, em Portugal , referiu. "O trabalho é duro, uma vez que envolve turnos de entre 12 e 14 horas, sem dias de descanso", contou. Além disso, acrescentou, "a língua é das mais difíceis que conheço e o tempo é de extremos, com calor no Verão e temperaturas até 30 graus negativos no Inverno".


Boas condições de trabalho

Porém, tendo em conta o local, as condições de trabalho são boas: "Temos Internet, computadores, um 'ger' para ver televisão e DVDs, e as casas de banho, também em 'gers' são bastante aceitáveis". O trabalho resume-se a um projecto de exploração de carvão e vai desde o reconhecimento à cartografia, passando pela perfuração, até à modelação de recursos e aos estudos geotécnicos que precederão a abertura de uma mina.

"O projecto dura há dois anos e é neste momento incerto quando acabará" para passar à fase de abertura da mina, disse ainda. Localizado no centro-leste da Ásia, a Mongólia é um vasto país de 1.565 .000 kms2 e apenas 2,3 milhões de habitantes, ocupado em grande parte pelo deserto de Gobi. Independente da China desde 1921, o país passou a República Popular em 1924 e autonomizou-se da ex-URSS, de que era estado satélite, a partir de 1990.

Mas apesar da distância e da dureza das condições de vida, Sara Ferreira sente que teve "muita sorte" em trabalhar na Mongólia, "ainda por cima como primeiro emprego", e considera os mongóis gente "bastante amigável, hospitaleira e humilde". "Gostam de comer, rir e beber, como qualquer português", concluiu.
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Fonte: Ciência Hoje (2006)

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