06 novembro 2011

Lítio em Portugal - PARTE II - Depósitos pegmatíticos

DEPÓSITOS PEGMATÍTICOS EM PORTUGAL

As principais ocorrências pegmatíticas com interesse económico em Portugal distribuem-se pelos terrenos graníticos da região das Beiras, constituindo o eixo central da Zona Centro-Ibérica. Actualmente, destacam-se pela sua extensão/potencial mineiro os campos pegmatíticos de Sátão (Viseu), Mangualde e de Seixo Amarelo – Gonçalo (Guarda), encontrando-se especialmente associados a granitos porfiróides biotíticos e/ou granitos grosseiros de duas micas gerados durante o final da orogenia Hercínica ou Varisca (311Ma).






APLITOS-PEGMATITOS DE SEIXO AMARELO – GONÇALO (GUARDA)

Os aplitos-pegmatitos de Seixo Amarelo – Gonçalo, que afloram numa extensão de cerca de 100km2, estão integrados num domínio que se desenvolve pelas regiões de Gouveia - Fornos de Algodres – Celorico da Beira – Guarda – Belmonte – Bendada – Sabugal. Este campo pegmatítico é essencialmente constituído por soleiras aplito-pegmatíticas constituídas por quartzo, feldspato potássico, albite, moscovite e micas litiníferas. Verifica-se uma tendência para estas soleiras aflorarem em zonas de bordadura de granitos tardi-orogénicos intrusivos em batólitos sin-orogénicos e metassedimentos pertencentes ao Complexo Xisto-Grauváquico, intruindo preferencialmente o granito porfiróide sin-orogénico (Granito da Guarda).

As estruturas mineralizadas deste domínio apresentam textura mista, isto é, alternância entre as fases aplítica e pegmatítica. A segunda caracteriza-se pelos grãos grosseiros «geralmente compostos por cristais sub-idiomórficos de feldspato potássico e agregados de quartzo, aos quais se associam com frequência albite, moscovite e lepidolite», enquanto a primeira, que envolve e intrui por vezes a segunda, apresenta textura sacaróide e é constituída essencialmente por albite, quartzo, moscovite e lepidolite.

Tendo em conta a composição mineralógica e química, é possível agrupar as soleiras em três tipos fundamentais:
-soleiras estaníferas – geologicamente menos evoluídas, caracterizadas por concentrações baixas em Li, Rb e elementos afins, e teores significativos em Sn, Nb, Ta; essencialmente quartzo, feldspato potássico, albite e moscovite;
-soleiras litiníferas – geologicamente mais evoluídas, caracterizadas por teores elevados de elementos incompatíveis como o Li e Rb, frequentemente associados a altas concentrações de Sn, Nb e Ta; essencialmente quartzo, albite, feldspato potássico, lepidolite e moscovite mais ou menos litinífera; afloram em regiões topograficamente mais elevadas do que as soleiras estaníferas;
-soleiras estano-litiníferas – estruturas que estabelecem a passagem entre os tipos anteriores.

De uma maneira geral, as soleiras estaníferas representam magma menos evoluído, intruindo regiões menos elevadas, enquanto as soleiras litinífera, que representam uma magma mais evoluído, intruiram regiões mais elevadas. Estas últimas intrusões foram afectadas por efeitos posteriores à sua instalação, ficando zonadas, isto é, com um bandado que marca a evolução química e textural dos minerais constituintes.




Nos diferentes tipos de soleiras os teores de lítio variam entre cerca de 1500ppm, nas de tipo estanífero, e cerca de 5700ppm, nas de tipo litinífero.

A intrusão das soleiras aplito-pegmatíticas induziu o desenvolvimento de bandas de metassomatismo ao longo do seu contacto com os granitos. Estas bandas, que apresentam uma espessura média variável entre os 5 e 20cm, indicam uma série de modificações na rocha:
-endurecimento da rocha granítica encaixante devido à deposição intensa e tardia de quartzo; frequente recristalização de albite e feldspato potássico;
-desferrização da biotite primária e incorporação do lítio, o que origina biotite litinífera (zinnwaldite);
-cristalização de turmalina, berilo e ouro.

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Adaptado de:  
Ricardo Manuel (2011), Pegmatitos em Portugal - a importância das fontes de lítio, Rochas Industriais e Ornamentais, Departamento de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e Tecnologias, Universidade Nova de Lisboa.

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